Dra. FERNANDA VIEIRA MORAES
Psicologa
A depressão perinatal se refere ao humor depressivo no período que antecede e sucede o nascimento do bebê, pois casos de depressão pós parto na maioria das vezes acontecem em um contexto que já havia depressão durante a gestação ou até mesmo antes dela. É importante primeiro colocar a gravidez numa perspectiva realista, não romantizar esse período como um momento mágico, plenamente feliz e sem adversidades, pois nem sempre é assim e até mesmo em um contexto favorável se apresenta como um grande desafio, um período de crise na vida da mulher, pois exige várias mudanças. O corpo se transforma para receber uma vida, há uma descarga de hormônios e uma readequação física e psicológica é exigida. Há uma mudança de identidade, pois a mulher assume o papel de mãe além dos papéis que já tem como mulher e filha, e se for casada, o de esposa também. A ansiedade está presente diante da expectativa que é gerada se o filho está bem de saúde, de como vai ser quando nascer, se a gestação irá bem até o parto. E se a gravidez não foi desejada e nem planejada, cria-se um contexto ainda mais conflituoso. Então, todas essas questões favorecem uma desestabilização e se a mulher já tiver um histórico de depressão ou uma predisposição a não se adaptar as dificuldades da vida, o pós parto só vem a agravar os sintomas.
O estresse elevado junto com as alterações hormonais e o surgimento de outros fatores como divórcio, morte de algum ente querido, doença e conflitos conjugais, os sintomas podem agravar e tornar um quadro depressivo. Se a mãe não conseguir cuidar do bebê e começar a negligenciar o seu autocuidado e ainda ter alguns sintomas como ideação suicida, tendencia ao isolamento social, tristeza constante, pode ficar alerta. Além desses sintomas tem a fadiga, choro fácil, pensamentos negativos, alteração do sono e apetite, perda de interesse ou prazer em realizar atividades que fazia ante. A falta de energia para cuidar do bebê e estimular o seu desenvolvimento gera um sentimento de culpa, pois a mãe depressiva ama o seu bebê, mas não consegue aproveitar o momento de cuidar e conhece-lo. A culpa aumenta ainda mais quando se depara com o contraste da maternidade ideal que prega sentir alegria. Assim, muitas mães sentem medo de expor os seus sentimentos e serem julgadas.
Outros fatores de risco para o surgimento da depressão estão no caso de a mulher já ter tido aborto, histórico depressivo, com familiares próximos portadores de transtorno mental, mãe adolescente, solteira, em situação de divórcio, gravidez não planejada e não desejada, baixa renda e escolaridade, maior quantidade de filhos, violência obstétrica na hora do parto, prematuridade do bebê, internação da mãe ou do bebê e não conseguir amamentar.
Pesquisas mostram que casos de depressão após o parto são bem menores comparados ao que acontecem na gestação. Então, é importante ter acompanhamento psicológico desde o inicio da gravidez para evitar que sintomas piorem e surja uma depressão que impactará no vínculo mãe-bebê prejudicando o desenvolvimento adequado da criança, o que pode afetar a saúde emocional dela ao longo da vida. O pré-natal abordando a saúde mental favorece um diagnóstico precoce e uma intervenção mais assertiva. A rede de apoio também é muito importante para observar os sintomas da mãe, acolher e não julgar, para enfim procurar uma ajuda profissional e evitar maior sofrimento psíquico.